Autor: José Saramago
Nº de Páginas: 231
Editora: Leya - Colecção Bis
Preço: 5,95 €
Sinopse: « «No dia seguinte ninguém morreu. Assim começa este romance de José Saramago. Colocada a hipótese, o autor desenvolve-a em todas as suas consequências, e o leitor é conduzido com mão de mestre numa ampla divagação sobre a vida, a morte, o amor, e o sentido, ou a falta dele, da nossa existência.»
Depois de ler Ensaio sobre a Cegueira e O Homem Duplicado, as expectativas estavam altas em relação ao que podia ler no futuro de José Saramago. Depois de ler este terceiro livro do autor, posso dizer que muito provavelmente encontrei o meu escritor preferido. E engane-se quem pensa que o digo englobando apenas escritores de língua portuguesa, pois digo-o a nível mundial.
Saramago tornou-se aos poucos num daqueles autores de quem pretendo ler a obra completa, ou pelo menos grande parte dela - assim como Eça de Queirós ou Tolstói, por exemplo- o que revela todo o meu fascínio pela sua escrita.
Nesta obra em concreto, Saramago escreve na sua maneira típica, uma narrativa inverosímil com uma mensagem muito terrena, repleta de críticas às mais diversas identidades e grupos sociais (como é o caso da igreja).
Num país onde a morte deixa de operar desde o primeiro dia do ano, os seus cidadãos tornam-se num povo feliz e até invejado pelos habitantes dos restantes países. Algo que não dura muito, pois passado pouco tempo começam a surgir as verdadeiras consequências de tal acontecimento; amontoam-se os doentes terminais, a quem a morte não vem buscar como fazia antigamente, algumas industrias sofrem um abalo descomunal - como por exemplo a indústria funerária, que já não tendo ninguém para enterrar teve de se contentar com o enterro de animais domésticos. Acontecimento que por conseguinte leva a que algumas famílias opte por passar a fronteira limítrofe com os seus entes queridos, matando-os de imediato, acto que depois viria a ser desempenhado pela máphia local a troco de dinheiro.
Ironicamente, a morte regressa ao activo levando o país bastardo de volta à normalidade.
O livro tem um desfecho incrivelmente surpreendente, digo-o desta maneira para não estragar a leitura de uma obra que tanto prezo, embora as minhas reviews/opiniões/críticas contenham sempre spoilers (pois também acho que faz parte de uma boa crítica adoçar a boca aos leitores da mesma com um pouco do que de positivo ou negativo tem o livro em questão).
Da minha humilde percepção e ponto de vista, Saramago quis com esta obra mostrar que até a morte é parte importante e até mesmo essencial para o desenrolar da vida "normal" de uma sociedade, sendo que consegue também mostrar o valor da vida, tantas vezes menosprezado e esquecido.
Este autor fascina-me a cada palavra lida, a cada frase, a cada página, com uma escrita inconfundível onde se reflecte um espírito superior ao dos demais autores. José Saramago para mim não é apenas um escritor, mas sim o escritor. Sinto um misto de vários sentimentos ao pensar nas tantas obras que tenho ainda para ler deste autor; sinto pressa e uma vontade enorme de explorar a sua obra até à ultima gota, sinto uma alegria enorme por saber que tenho ainda mais de uma dezena de obras suas para ler mas ao mesmo tempo sinto alguma tristeza por saber que essa mesma lista de obras nunca mais será aumentada
Sinceramente, quando penso em José Saramago sinto orgulho por se tratar de um autor português e sinto uma espécie de pena misturada com vergonha pelo modo como foi tratado por vezes no nosso país, que o levou a isolar-se em Espanha, pois embora tenha sido claramente uma opção pessoal, penso que deve ter sido com grande mágoa que abandonou a sua pátria.
Memorial do Convento, Objecto Quase e Todos os Nomes, são agora as obras do autor que almejo ler num futuro que espero ser o mais próximo possível. O que é algo contraditório, pois neste momento encontro-me em fase de Stop no que toca a comprar livros, pois tenho nas minhas estantes dezenas de livros por ler que decidi não atrasar mais, o que faz com que só volte a ler autores pelos quais me tenho apaixonado daqui a algum tempo.
Aconselho vivamente quem nunca leu José Saramago a experimentar e penetrar nos confins da sua obra, pois têm muito por onde escolher, sendo que daquilo que conheço aconselharia O Homem Duplicado como o livro ideal para se começar a ler este autor. Valorizem aquilo que de melhor temos no nosso país.
Boas leituras,
Fernando