sexta-feira, 19 de julho de 2013
sábado, 13 de julho de 2013
Citações #26
«Soou o apito do comboio; mas no momento em que as rodas motoras da locomotiva, patinando sobre os carris, começavam a imprimir ao comboio alguma velocidade, ouviram-se uns gritos de: - Parem! Parem!
Não se detém um comboio em movimento. O gentleman que proferia estes gritos era evidentemente um mórmon retardatário. Corria de tal forma que lhe faltava o ar. Felizmente para ele, a estação não tinha nem portas nem barreiras. Lançou-se então para a via, saltou para o estribo do último vagão, e caiu sem fôlego num dos bancos da carruagem.
Passepartout, que tinha seguido com interesse os percalços daquela ginástica, veio contemplar o retardatário, pelo qual se interessou muito quando soube que só tinha tentado a fuga depois de um acontecimento doméstico.
Quando o mórmon tomou fôlego, Passepartout animou-se a perguntar-lhe delicadamente quantas mulheres tinha para ele sozinho, já que pela maneira que vinha a fugir supunha que teriam de ser umas vinte, pelo menos.
- Uma, senhor! - respondeu o mórmon levantando os braços para o céu. - Uma e já era muito!»
Não se detém um comboio em movimento. O gentleman que proferia estes gritos era evidentemente um mórmon retardatário. Corria de tal forma que lhe faltava o ar. Felizmente para ele, a estação não tinha nem portas nem barreiras. Lançou-se então para a via, saltou para o estribo do último vagão, e caiu sem fôlego num dos bancos da carruagem.
Passepartout, que tinha seguido com interesse os percalços daquela ginástica, veio contemplar o retardatário, pelo qual se interessou muito quando soube que só tinha tentado a fuga depois de um acontecimento doméstico.
Quando o mórmon tomou fôlego, Passepartout animou-se a perguntar-lhe delicadamente quantas mulheres tinha para ele sozinho, já que pela maneira que vinha a fugir supunha que teriam de ser umas vinte, pelo menos.
- Uma, senhor! - respondeu o mórmon levantando os braços para o céu. - Uma e já era muito!»
A Volta ao Mundo em Oitenta Dias, Júlio Verne
terça-feira, 2 de julho de 2013
Entrevista: Inês Books
1 -- Olá, Inês. Em primeiro lugar quero pedir-te que faças uma pequena auto-apresentação para os visitantes que ainda não te conhecem (nome, o que te traz aqui, etc.)...
Olá, a todos. Eu sou a Inês, uma leitora entusiasta que decidiu começar a partilhar as suas impressões de leitura através de um canal no Youtube, de forma amadora e despretensiosa.
2 - O que é para ti um bom livro? Nomeia, se conseguires, os teus três livros favoritos de sempre e o que te levou a gostar tanto dos mesmos.
Eu dou muito valor à forma como o livro está escrito. Claro que gosto de bons enredos, de preferência com episódios e finais surpreendentes, mas para os transmitir não me basta um contador de histórias. Preciso de bons escritores, daqueles seres capazes de juntar palavras magistralmente, de criar frases que até àquele momento ainda não viviam na minha cabeça.Mas, no geral, acho que um bom livro é aquele que incentiva o leitor a ler mais.Pedir-me para escolher três livros entre todos aqueles que já li é como pedir a uma criança para escolher entre o pai e a mãe. Não sou capaz. No entanto, houve um livro que foi um grande marco na minha vida enquanto leitora: Crime e Castigo. Depois de o ler percebi a diferença abismal que havia entre aquela obra e tudo o que eu tinha lido até à data. Já passaram, talvez, 15 anos e ainda me recordo, nas mais diversas situações, do Raskolnikov.
3 - O motivo que me levou a começar a escrever opiniões acerca do que ía lendo foi muito simples; dava por mim a olhar para as lombadas dos livros nas minhas estantes e não me conseguia lembrar do que tinha achado dos mesmos. O que te levou a quereres expor as tuas opiniões acerca daquilo que lês a completos desconhecidos? E como te surgiu a ideia...
Quando comecei a escrever sobre o que lia, no Goodreads, o objetivo era esse: guardar a impressão que o livro me tinha deixado no momento em que virei a última página. Os vídeos, que surgiram quase dois anos depois, tinham um propósito diferente, não eram tanto para mim, tinham o objetivo de funcionar como sugestões rápidas de leitura. A ideia era bastante simples: fazer vídeos curtos, de 5 minutos, que pudessem transmitir, de forma clara e acessível, que tipo de história se encontraria no livro (sem spoilers) e qual o género de narrativa. Queria que as pessoas que procurassem um livro para ler pudessem dar uso aos meus vídeos para fazer a sua escolha, aproveitando sugestões ou evitando livros que por um ou outro motivo não fossem adequados.Não sei ao certo como surgiu a ideia. Algumas pessoas pediam-me com frequência para lhes recomendar livros e eu achei que seria uma boa ideia fazer chegar essas recomendações a um maior número de pessoas, a outros leitores potencialmente interessados. Os vídeos pareceram-me uma forma prática e eficaz de o fazer.
4 - Qual a importância que dás aos ebooks ou, melhor, qual é a tua relação com os mesmos. Aderes? Julgas que serão capazes de substituir os livros físicos a longo prazo?
Eu tenho um Kindle que uso sempre que posso. Agrada-me a ideia de poder transportar vários livros comigo e, assim que o preço se tornar mais atrativo, acredito que os ebooks possam vir a ter um peso comercial maior do que o dos livros físicos. Ainda assim, sinceramente, não me parece que estes últimos cheguem a desaparecer. Pessoas como eu vão sempre querer ter os seus livros preferidos à mão; estar numa biblioteca ou olhar para a minha estante faz-me muito feliz.
5 - Que vantagens e desvantagens achas que este tipo de crítica literária online, tanto através de blogs como de vlogs, trazem para os leitores que as lêem.
A principal vantagem é que, havendo blogs e vlogs para todos os gostos, podemos facilmente encontrar leitores com perfis literários semelhantes ao nosso. Sentimo-nos mais à vontade para seguir recomendações vindas de uma pessoa com a qual criámos uma certa proximidade por acompanharmos o seu percurso literário durante meses ou anos. Para além disso, a maior parte dos bloggers e vloggers está acessível e disponível para trocar ideias e responder às perguntas dos outros leitores.Eu diria que as desvantagens começam quando quem lê ou assiste se esquece que aquilo é apenas uma opinião. Não são interpretações técnicas ou académicas, são impressões de leitores comuns. O facto de estarem mais expostas do que as que trocamos com amigos numa mesa de café não faz delas mais corretas e, certamente, não faz delas as únicas possíveis.
6 - Não achaste estranho ao inicio veres-te a ti própria no ecrã a falar sobre livros?...
Sim, sem dúvida. Não estamos habituados a ver a nossa imagem no ecrã e, para ajudar, os vídeos raramente saem como idealizamos (ou gostaríamos de estar mais à vontade, ou não dissemos algo que achávamos importante, ou ao editar descobrimos erros e não temos coragem de voltar a gravar...). Para além disso, nunca chegamos a esquecer que depois de colocado um vídeo numa plataforma como o Youtube deixamos de controlar as repercussões que essa exposição pode vir a ter na nossa vida.
7 - Já alguém te reconheceu na rua? Do tipo; «Olha a moça dos livros»? :)
Aconteceu-me há pouco tempo pela primeira vez. Eu estava numa livraria e uma rapariga muito simpática chamada Rita veio ter comigo e perguntou-me se eu não tinha um vlog. Ficámos alguns minutos a conversar sobre livros. Foi inesperado, mas gostei que ela tivesse a iniciativa de me abordar e de podermos falar um bocadinho.
8 - O que pensas da nova geração de escritores da Lusofonia? Achas que temos autores capazes de levar a bom porto esta que é, aos meus olhos, uma das maiores heranças que temos em Portugal? Se sim, gostava que nomeasses os "jovens" autores que mais te cativam.
Acho genuinamente que é uma geração cheia de talento, tenho falado sobre isso em alguns vídeos. Ando muito entusiasmada com estes jovens autores, tanto com aqueles que já têm várias obras com qualidade publicadas, como com outros com apenas uma ou duas obras mas nos quais deposito grandes esperanças. Podia falar em José Luís Peixoto, Nuno Camarneiro, João Tordo, João Ricardo Pedro, ou tantos outros, mas, se me obrigarem a escolher dois, destacaria Valter Hugo Mãe e Afonso Cruz.
9 - Tomei conhecimento, através dos teus vídeos, que és também uma devota leitora da extensa obra de José Saramago -- um dos meus autores de eleição. Como também eu o sou e acredito que haja por aí algures quem também o seja e esteja a ler isto, quero pedir-te que apontes o que torna tão especiais e síngulares as suas narrativas. Se possível, aponta qual a tua obra predilecta do autor.
Saramago imaginava as histórias mais extraordinárias e conseguia fazer o mais difícil: escrevê-las primorosamente. Tinha uma capacidade incrível de olhar o mundo, de analisar o mais íntimo do ser humano e usava esse material para criar enredos que serão sempre atuais enquanto houver humanidade. Para além disso, tinha o tipo de humor sarcástico que me faz rir e era um mestre a desconstruir frases feitas.Apesar de nunca recomendar esta obra a quem me pede indicações para começar a ler Saramago, eu gostei muito de A Viagem do Elefante. É um livro com uma não história que só nas mãos de Saramago se tornaria genial.
10 - Queres deixar alguma mensagem final?
Quero, antes de mais, agradecer o convite e aproveito para convidar todos os leitores do blog a visitar o canal e a deixarem a sua opinião. Enquanto isso não acontece, espero que desfrutem ao máximo das vossas leituras.
E pronto. É isto. Obrigada pela entrevista :)
Beijinhos,Ines
sexta-feira, 21 de junho de 2013
Inês Books
Fiquei vidrado neste tipo de crítica literária assim que o conheci, tão pouco usual me pareceu. Esta é a Inês, uma leitora insaciável que grava e partilha as suas opiniões no Youtube com quem estiver interessado. Brevemente será publicada aqui no blog uma Entrevista à Inês. Até lá fiquem com um exemplo daquilo que ela tem publicado no seu canal. Para subscrever o canal cliquem aqui.
Citações #25
«Não dava uma passada a mais, indo sempre pelo caminho mais curto. Não perdia tempo, nem sequer um segundo, a olhar para o tecto. Não se permitia um gesto supérfluo. Nunca ninguém o tinha visto comovido ou perturbado. Era o homem menos apressado do mundo, mas chegava sempre a tempo.»
A Volta ao Mundo em Oitenta Dias, Júlio Verne
quarta-feira, 5 de junho de 2013
A-ver-letras #3
Em Istambul, Turquia, os manifestantes improvisaram uma biblioteca pública na Praça Taksim, para facilitar o acesso à informação e à cultura no tempo entre as manifestações pelos seus direitos. Lindo!
quinta-feira, 16 de maio de 2013
Citações #24
«Na claridade do primeiro alvorecer, levantou-se. O céu estava muito limpo, transparente até às últimas e pálidas estrelas. Era um bonito dia para entrar em Lisboa, com bom tempo para lá ficar ou continuar viagem, logo veria. Meteu a mão ao alforge, tirou as botas arruinadas que em todo o caminho do Alentejo nunca calçara, e calçasse-as ele nesse mesmo caminho teriam ficado, e pedindo à mão direita habilidades novas, com o frouxo amparo que o coto, ainda em primeira aprendizagem, podia oferecer, conseguiu acomodar os pés, se pelo contrário não ia sacrificá-los em bolhas e roeduras, tão antigo era o hábito de andarem descalços, em sua vida de paisano, ou, no tempo militar, quando a impedimenta nem para jantar tinha sola, quanto mais para as botas. Não há pior vida que a do soldado.»
Memorial do Convento, José Saramago
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