sábado, 13 de julho de 2013

Citações #26

«Soou o apito do comboio; mas no momento em que as rodas motoras da locomotiva, patinando sobre os carris, começavam a imprimir ao comboio alguma velocidade, ouviram-se uns gritos de: - Parem! Parem!
 Não se detém um comboio em movimento. O gentleman que proferia estes gritos era evidentemente um mórmon retardatário. Corria de tal forma que lhe faltava o ar. Felizmente para ele, a estação não tinha nem portas nem barreiras. Lançou-se então para a via, saltou para o estribo do último vagão, e caiu sem fôlego num dos bancos da carruagem.
 Passepartout, que tinha seguido com interesse os percalços daquela ginástica, veio contemplar o retardatário, pelo qual se interessou muito quando soube que só tinha tentado a fuga depois de um acontecimento doméstico.
 Quando o mórmon tomou fôlego, Passepartout animou-se a perguntar-lhe delicadamente quantas mulheres tinha para ele sozinho, já que pela maneira que vinha a fugir supunha que teriam de ser umas vinte, pelo menos.
 - Uma, senhor! - respondeu o mórmon levantando os braços para o céu. - Uma e já era muito!»

A Volta ao Mundo em Oitenta Dias, Júlio Verne

terça-feira, 2 de julho de 2013

Entrevista: Inês Books



1 -- Olá, Inês. Em primeiro lugar quero pedir-te que faças uma pequena auto-apresentação para os visitantes que ainda não te conhecem (nome, o que te traz aqui, etc.)...


Olá, a todos. Eu sou a Inês, uma leitora entusiasta que decidiu começar a partilhar as suas impressões de leitura através de um canal no Youtube, de forma amadora e despretensiosa.

2 - O que é para ti um bom livro? Nomeia, se conseguires, os teus três livros favoritos de sempre e o que te levou a gostar tanto dos mesmos.


Eu dou muito valor à forma como o livro está escrito. Claro que gosto de bons enredos, de preferência com episódios e finais surpreendentes, mas para os transmitir não me basta um contador de histórias. Preciso de bons escritores, daqueles seres capazes de juntar palavras magistralmente, de criar frases que até àquele momento ainda não viviam na minha cabeça.Mas, no geral, acho que um bom livro é aquele que incentiva o leitor a ler mais.Pedir-me para escolher três livros entre todos aqueles que já li é como pedir a uma criança para escolher entre o pai e a mãe. Não sou capaz. No entanto, houve um livro que foi um grande marco na minha vida enquanto leitora: Crime e Castigo. Depois de o ler percebi a diferença abismal que havia entre aquela obra e tudo o que eu tinha lido até à data. Já passaram, talvez, 15 anos e ainda me recordo, nas mais diversas situações, do Raskolnikov. 

3 - O motivo que me levou a começar a escrever opiniões acerca do que ía lendo foi muito simples; dava por mim a olhar para as lombadas dos livros nas minhas estantes e não me conseguia lembrar do que tinha achado dos mesmos. O que te levou a quereres expor as tuas opiniões acerca daquilo que lês a completos desconhecidos? E como te surgiu a ideia...


Quando comecei a escrever sobre o que lia, no Goodreads, o objetivo era esse: guardar a impressão que o livro me tinha deixado no momento em que virei a última página. Os vídeos, que surgiram quase dois anos depois, tinham um propósito diferente, não eram tanto para mim, tinham o objetivo de funcionar como sugestões rápidas de leitura. A ideia era bastante simples: fazer vídeos curtos, de 5 minutos, que pudessem transmitir, de forma clara e acessível, que tipo de história se encontraria no livro (sem spoilers) e qual o género de narrativa. Queria que as pessoas que procurassem um livro para ler pudessem dar uso aos meus vídeos para fazer a sua escolha, aproveitando sugestões ou evitando livros que por um ou outro motivo não fossem adequados.Não sei ao certo como surgiu a ideia. Algumas pessoas pediam-me com frequência para lhes recomendar livros e eu achei que seria uma boa ideia fazer chegar essas recomendações a um maior número de pessoas, a outros leitores potencialmente interessados. Os vídeos pareceram-me uma forma prática e eficaz de o fazer.

4 - Qual a importância que dás aos ebooks ou, melhor, qual é a tua relação com os mesmos. Aderes? Julgas que serão capazes de substituir os livros físicos a longo prazo?


Eu tenho um Kindle que uso sempre que posso. Agrada-me a ideia de poder transportar vários livros comigo e, assim que o preço se tornar mais atrativo, acredito que os ebooks possam vir a ter um peso comercial maior do que o dos livros físicos. Ainda assim, sinceramente, não me parece que estes últimos cheguem a desaparecer. Pessoas como eu vão sempre querer ter os seus livros preferidos à mão; estar numa biblioteca ou olhar para a minha estante faz-me muito feliz.

5 - Que vantagens e desvantagens achas que este tipo de crítica literária online, tanto através de blogs como de vlogs, trazem para os leitores que as lêem.


A principal vantagem é que, havendo blogs e vlogs para todos os gostos, podemos facilmente encontrar leitores com perfis literários semelhantes ao nosso. Sentimo-nos mais à vontade para seguir recomendações vindas de uma pessoa com a qual criámos uma certa proximidade por acompanharmos o seu percurso literário durante meses ou anos. Para além disso, a maior parte dos bloggers e vloggers está acessível e disponível para trocar ideias e responder às perguntas dos outros leitores.Eu diria que as desvantagens começam quando quem lê ou assiste se esquece que aquilo é apenas uma opinião. Não são interpretações técnicas ou académicas, são impressões de leitores comuns. O facto de estarem mais expostas do que as que trocamos com amigos numa mesa de café não faz delas mais corretas e, certamente, não faz delas as únicas possíveis.

6 - Não achaste estranho ao inicio veres-te a ti própria no ecrã a falar sobre livros?...

Sim, sem dúvida. Não estamos habituados a ver a nossa imagem no ecrã e, para ajudar, os vídeos raramente saem como idealizamos (ou gostaríamos de estar mais à vontade, ou não dissemos algo que achávamos importante, ou ao editar descobrimos erros e não temos coragem de voltar a gravar...). Para além disso, nunca chegamos a esquecer que depois de colocado um vídeo numa plataforma como o Youtube deixamos de controlar as repercussões que essa exposição pode vir a ter na nossa vida.

7 - Já alguém te reconheceu na rua? Do tipo; «Olha a moça dos livros»? :)

Aconteceu-me há pouco tempo pela primeira vez. Eu estava numa livraria e uma rapariga muito simpática chamada Rita veio ter comigo e perguntou-me se eu não tinha um vlog. Ficámos alguns minutos a conversar sobre livros. Foi inesperado, mas gostei que ela tivesse a iniciativa de me abordar e de podermos falar um bocadinho.

8 - O que pensas da nova geração de escritores da Lusofonia? Achas que temos autores capazes de levar a bom porto esta que é, aos meus olhos, uma das maiores heranças que temos em Portugal? Se sim, gostava que nomeasses os "jovens" autores que mais te cativam.

Acho genuinamente que é uma geração cheia de talento, tenho falado sobre isso em alguns vídeos. Ando muito entusiasmada com estes jovens autores, tanto com aqueles que já têm várias obras com qualidade publicadas, como com outros com apenas uma ou duas obras mas nos quais deposito grandes esperanças. Podia falar em José Luís Peixoto, Nuno Camarneiro, João Tordo, João Ricardo Pedro, ou tantos outros, mas, se me obrigarem a escolher dois, destacaria Valter Hugo Mãe e Afonso Cruz.

9 - Tomei conhecimento, através dos teus vídeos, que és também uma devota leitora da extensa obra de José Saramago -- um dos meus autores de eleição. Como também eu o sou e acredito que haja por aí algures quem também o seja e esteja a ler isto, quero pedir-te que apontes o que torna tão especiais e síngulares as suas narrativas. Se possível, aponta qual a tua obra predilecta do autor.

Saramago imaginava as histórias mais extraordinárias e conseguia fazer o mais difícil: escrevê-las primorosamente. Tinha uma capacidade incrível de olhar o mundo, de analisar o mais íntimo do ser humano e usava esse material para criar enredos que serão sempre atuais enquanto houver humanidade. Para além disso, tinha o tipo de humor sarcástico que me faz rir e era um mestre a desconstruir frases feitas.Apesar de nunca recomendar esta obra a quem me pede indicações para começar a ler Saramago, eu gostei muito de A Viagem do Elefante. É um livro com uma não história que só nas mãos de Saramago se tornaria genial.

10 - Queres deixar alguma mensagem final?

Quero, antes de mais, agradecer o convite e aproveito para convidar todos os leitores do blog a visitar o canal e a deixarem a sua opinião. Enquanto isso não acontece, espero que desfrutem ao máximo das vossas leituras.


E pronto. É isto. Obrigada pela entrevista :)
Beijinhos,Ines

sexta-feira, 21 de junho de 2013

Inês Books

Fiquei vidrado neste tipo de crítica literária assim que o conheci, tão pouco usual me pareceu. Esta é a Inês, uma leitora insaciável que grava e partilha as suas opiniões no Youtube com quem estiver interessado. Brevemente será publicada aqui no blog uma Entrevista à Inês. Até lá fiquem com um exemplo daquilo que ela tem publicado no seu canal. Para subscrever o canal cliquem aqui.

Citações #25

«Não dava uma passada a mais, indo sempre pelo caminho mais curto. Não perdia tempo, nem sequer um segundo, a olhar para o tecto. Não se permitia um gesto supérfluo. Nunca ninguém o tinha visto comovido ou perturbado. Era o homem menos apressado do mundo, mas chegava sempre a tempo.»

A Volta ao Mundo em Oitenta Dias, Júlio Verne

quarta-feira, 5 de junho de 2013

A-ver-letras #3


Em Istambul, Turquia, os manifestantes improvisaram uma biblioteca pública na Praça Taksim, para facilitar o acesso à informação e à cultura no tempo entre as manifestações pelos seus direitos. Lindo!

quinta-feira, 16 de maio de 2013

Citações #24

«Na claridade do primeiro alvorecer, levantou-se. O céu estava muito limpo, transparente até às últimas e pálidas estrelas. Era um bonito dia para entrar em Lisboa, com bom tempo para lá ficar ou continuar viagem, logo veria. Meteu a mão ao alforge, tirou as botas arruinadas que em todo o caminho do Alentejo nunca calçara, e calçasse-as ele nesse mesmo caminho teriam ficado, e pedindo à mão direita habilidades novas, com o frouxo amparo que o coto, ainda em primeira aprendizagem, podia oferecer, conseguiu acomodar os pés, se pelo contrário não ia sacrificá-los em bolhas e roeduras, tão antigo era o hábito de andarem descalços, em sua vida de paisano, ou, no tempo militar, quando a impedimenta nem para jantar tinha sola, quanto mais para as botas. Não há pior vida que a do soldado.»

Memorial do Convento, José Saramago

A-ver-letras #2


Chegou a desejada hora do regresso a outra obra de José Saramago. Desta vez será O Memorial do Convento

A-ver-letras #1


Esta é a Ikushima Library, desenhada pelo Atlier Bow Wow, em Kokubunji, Tokio - Japão. Para verem mais imagens desta magnífica casa-livro cliquem aqui.

quarta-feira, 15 de maio de 2013

Kanikosen - Takiji Kobayashi




Título: Kanikosen - O Navio dos Homens 
Autor: Takiji Kobayashi
Nº de Páginas: 162
Editora: Clube do Autor

Sinopse: « «Vamos até ao inferno.» Começa assim a história do Hakko Maru, um pesqueiro que parte para a faina nas águas gélidas do Kamchatka, e da sua tripulação: um grupo diversificado de lobos-do-mar curtidos e arruinados pela bebida e pelas mulheres, estudantes universitários em dívida com o Estado e camponeses pobres à beira da inanição.
Enquanto o vento morde a coberta e a neve transforma os barcos em espectros, o patrão da expedição pesqueira força os tripulantes a trabalhar até ao esgotamento e aplica-lhes castigos brutais, se se atreverem a protestar. A pouco e pouco, espalham-se as sementes da revolta e, apesar das embarcações da marinha imperial que patrulham a região para manter a ordem, rebenta o inevitável motim.
Kanikosen - O Navio dos Homens é um clássico da literatura japonesa. Foi publicado pela primeira vez em 1929 e alcançou recentemente um espectacular ressurgimento internacional que o levou às listas dos livros mais populares, com mais de um milhão e seiscentos mil exemplares vendidos, uma vez que os leitores modernos se identificaram com as humildes personagens que protagonizam este romance.»

Este é um daqueles livros que carrega consigo uma bagagem enorme, pela repercussão que a publicação de obras com tanto impacto fazem arrastar.  Neste Navio dos Homens - obra de grande importância no país do sol poente e que levou o seu autor a ser reconhecido como o mais revolucionário dos escritores nipónicos - é-nos dada a conhecer uma realidade ao nível laboral não muito distante da dos tempos da escravatura propriamente dita. Trata-se de um relato cru, numa narrativa simples e linear, envolta numa mescla de sopa literária que me agrada bastante; personagens humildes,  uma voz narrativa solitária e omnipresente e uma mensagem forte q.b para ofuscar os olhos ao leitor mais desprevenido.
Tal como aconteceu em outros casos, Kobayashi sentiu na pele as consequências do papel que escolheu interpretar, que mais não foi que o de delator. Em 1930, ano seguinte à publicação da sua obra-prima, Kobayashi foi várias vezes detido pela polícia e acusado de actividades subversivas, passando desde então a escrever sob pseudónimo. Membro assumido do Partido Comunista com participações em greves de trabalhadores e revoltas de camponeses, acabaria por ser mais uma vítima do longo braço da lei. Detido pela polícia num dia, declarado morto no dia seguinte fruto da brutalidade policial.
Não deixa de ser irónica a forma como, quase um século depois, este romance simples ressurge do quase-nada e toma de assalto os escaparates um pouco por todo o mundo. Acontecimento que na minha opinião se deve ao facto de os leitores se identificarem com os pobres operários, marinheiros e pescadores nas suas escassas condições de trabalho.
Uma obra intemporal muito poderosa, que merece ser colocada lado a lado com outras grandes obras da literatura mundial.

sábado, 11 de maio de 2013

Citações #23

«Perder cinco ou seis homens não tem qualquer importância, mas seria uma pena perder os botes.»

Kanikosen - O Navio dos Homens, Takiji Kobayashi

terça-feira, 23 de abril de 2013

Tordoólico


Como já devem ter reparado, sou um Tordoólico assumido. Não receio ser descriminado nem olhado de cima a baixo nos transportes por meia-volta ter um livro do mesmo autor entre mãos. «Será que aquele tipo só lê livros do mesmo escritor?», ou «Olha-me este peixe do aquário, só sabe o que são aguas doces. Mar que é bom, nada!», rindo-se, maus como as cobras e a mostrarem todos os dentinhos que tenham na boca. Isto, claro, desde que não façam barulho suficiente para me despregar os olhos do livro.

Boas leituras.

sábado, 20 de abril de 2013

João Tordo na TSF

Podem escutar a interessante conversa de Carlos Vaz Marques e João Tordo no programa Pessoal e Transmissível da TSF, a propósito do lançamento do mais recente romance de Tordo; O Ano Sabático.
Para apreciar esta boa conversa entre duas personalidades com as quais eu, pessoalmente, simpatizo muito basta clicar aqui.

Desfrutem, 

boas leituras.

quinta-feira, 14 de março de 2013

A rainha no palácio das correntes de ar (Millenium 3) - Stieg Larsson


Título: A rainha no palácio das correntes de ar 
Autor: Stieg Larsson
Nº de Páginas: 732
Editora: Oceanos - Bis Leya

Sinopse: «Lisbeth Salander sobreviveu aos ferimentos de que foi vítima, mas não tem razões para sorrir: o seu estado de saúde inspira cuidados e terá de permanecer várias semanas no hospital, completamente impossibilitada de se movimentar e agir. As acusações que recaem sobre ela levaram a polícia a mantê-la incontactável. Lisbeth sente-se sitiada e, como se isto não bastasse, vê-se ainda confrontada com outro problema: o pai, que a odeia e que ela feriu à machadada, encontra-se no mesmo hospital com ferimentos menos graves e intenções mais maquiavélicas...
Entretanto, mantêm-se as movimentações secretas de alguns elementos da SAPO, a polícia de segurança sueca. Para se manter incógnita, esta gente que actua na sombra está determinada a eliminar todos os que se atravessam no seu caminho. Mas nem tudo podia ser mau: Lisbeth pode contar com Mikael Blomkvist que, para a ilibar, prepara um artigo sobre a conspiração que visa silenciá-la para sempre. E Mikael também não está sozinho nesta cruzada: Dragan Armanskij, o Inspector Bublanski, Anita Giannini, entre outros, unem esforços para que se faça justiça. E Erika Berger? Será que Mikael pode contar com a sua ajuda, agora que também ela está a ser ameaçada? E quem é Rosa Figuerola, a bela mulher que seduz Mikael Blomkvist?»

Neste terceiro e derradeiro volume da saga millenium confirmei as suspeitas; Stieg Larsson foi um mestre! Devo também dizer que tive recentemente a oportunidade de ver o filme que, para contrariar as minhas suspeitas, me conseguiu surpreender bastante pela positiva; através de uma incrível adaptação para a tela quase copiando a idealização do desenrolar da narrativa e das personagens que eu visualizara, em particular Lisbeth Salander. Neste volume, Lisbeth vê-se forçada a permanecer no hospital, carecendo de tratamentos, dependente da ajuda de terceiros para preparar o processo que irá ser alvo por parte do procurador Ekstrom, de Estocolmo. O suspeito do costume, o inabalável Super Bloomkvist, não desiste de tentar ajudá-la; sem receio de recorrer a métodos pouco ortodoxos que posteriormente se revelariam essenciais. Pelo meio decorre mais um episódio interessante na vida amorosa de Mikael Bloomkvist, que desta vez se perde de amores por uma inspectora ligada ao grande processo. Confesso que adoro a escrita de Stieg Larsson e a vejo como uma poção ideal para se escrever este género de narrativa ao mesmo tempo envolvente, extasiante e simples; uma escrita crua e sem floreados com a qual me dou lindamente e que devoro como um esfomeado. Só é pena eu saber que não existe mais nada do autor para eu ler, é mesmo pena…Enfim, penso que se justifica plenamente o sucesso obtido um pouco por todo o lado, figurando nos tops de vendas em vários cantos do mundo: fascinante!

quinta-feira, 21 de fevereiro de 2013

Citações #22

«Basta ao menos uma vez manter-me firme, e numa hora posso mudar todo o destino! O mais importante é o carácter. Lembrar-me apenas do que me aconteceu há sete meses em Roletenburgo, antes de ter perdido tudo. Oh, aquilo foi um caso notável de determinação: tinha perdido tudo, tudo... Ao sair do casino, descobri no bolso do colete um florim a agitar-se. «Ah, portanto ainda tenho com que jantar!»... pensei, mas, depois de ter dado uns cem passos, reconsiderei e voltei para trás. Coloquei esse florim no manque e, na verdade, há qualquer coisa de especial na sensação, quando sozinho, num país estrangeiro, longe da pátria, dos amigos, e sem saber o que se há-de comer hoje, se joga o último florim, o último dos últimos! Ganhei, e ao fim de vinte minutos saí do casino com cento e setenta florins no bolso. Isto é um facto! Aí está o que pode por vezes significar o último florim! Mas como seria se eu então tivesse desanimado, se não tivesse ousado decidir-me?...»

O Jogador, Fiódor Dostoievski

quarta-feira, 30 de janeiro de 2013

Citações #21

«Usámos o corpo um do outro como gratificação, apetece-me dizer: embora isto seja menos e mais do que verdadeiro. Porque a verdade é que, de repente, eu deixara de a conhecer e ela se encontrava perdida noutro lugar qualquer.»

Anatomia dos Mártires, João Tordo

quarta-feira, 23 de janeiro de 2013

A rapariga que sonhava com uma lata de gasolina e um fósforo (Millenium 2) - Stieg Larsson


Título: A rapariga que sonhava com uma lata de gasolina e um fósforo 
Autor: Stieg Larsson
Nº de Páginas: 623
Editora: Oceanos - Bis Leya

Sinopse: «Depois de uma longa estada no estrangeiro, Lisbeth Salander regressa à Suécia, cede o pequeno apartamento onde vivia  à sua amiga Miriam Wu, e instala-se luxuosamente numa zona nobre da cidade. Pela primeira vez na vida é economicamente independente, mas cedo percebe que o dinheiro não é tudo: não tem amigos nem família e está só. 
Mikael Blomkvist, que tentara contactar Lisbeth Salander durante meses, sem sucesso, desiste e concentra-se no trabalho. À Millenium chegou material para uma notícia explosiva: o jornalista Dag Svensson e a sua companheira Mia Johansson entregam na editora dois documentos que provam o envolvimento de personalidades importantes numa rede de tráfico de mulheres para exploração sexual. Quando Dag e Mia são brutalmente assassinados, todos os indícios recolhidos no local do crime apontam um suspeito: Lisbeth Salander. O seu passado sombrio e pouco convencional não abona a favor da sua imagem e a polícia move-lhe uma perseguição implacável. Lisbeth Salander, que está disposta a romper de vez com o passado e a punir aqueles que a prejudicaram, tem agora de provar a sua inocência e só uma pessoa parece disposta a ajudá-la: Mikael Blomkvist que, apesar de todas as evidências, se recusa a acreditar na sua culpabilidade.»

Penso que este foi o livro que me fez sentir, pela primeira vez, a curiosidade que engloba toda uma trilogia; a forma como a narrativa propositadamente se divide, de modo a deixar aquela réstia de ansiedade em relação a uma determinada personagem ou acontecimento é, na minha opinião, uma receita muito boa para este género de thriller. E que thriller!
Foi também nesta segunda parte que concluí que gosto muito mais de Lisbeth; a sua frieza e brutalidade em contraste com a bondade que oferece às - poucas - pessoas em quem confia formam o ponto de equilíbrio para uma personagem hiper cativante e imprevisível. Virei página a página, desejoso de a puder encontrar no próximo parágrafo, tal era a ansiedade de descobrir o que se passava naquela mente, simultâneamente dotada e implacável. Senti nela uma confiança tal que, independentemente do género de ameaça que lhe aparecesse, sabia que iria safar-se. A certo ponto senti-me incapaz, pois fui invadido por uma vontade colossal de ajudá-la, até voltar a cair em mim e bater de cara no meridiano que separa a realidade da ficção, divisão essa que consigo ver cada vez menos nitidamente. Gostei deste livro principalmente por ter mais suspense que o primeiro, entre vários outros aspectos que me conseguiram deixar à beira das insónias, absorto de tudo o resto e com muita, muita vontade de continuar a ler...


A Sinopse


Deparei-me, agora mesmo, durante uma das muitas voltas que dou por um par de blogs de opinião literária, com uma notícia que me deixou com água na boca  está disponível a sinopse do novo livro de João Tordo que, ao que parece, será editado muito em breve pela Dom Quixote. Estou curiosíssimo!

Sinopse
Depois de treze anos de vida desregrada no Québec, Hugo, um contrabaixista de jazz, decide tirar um «ano sabático» e regressar a Lisboa, onde espera reencontrar o equilíbrio junto da família. Porém, logo numa das primeiras noites, assiste ao concerto de Luís Stockman – um pianista que se tornou recentemente famoso –, e a almejada paz transforma-se no pior dos pesadelos: Stockman toca um tema inédito que Hugo conhece bem demais, pois é o mesmo que vem escrevendo há anos na sua cabeça…
Quando o começam a confundir na rua com o pianista – e a própria mãe lança a dúvida sobre a sua identidade –, Hugo encetará uma busca obsessiva da verdade e do seu duplo, entrando num labirinto de memórias e contradições que o conduzirá a um destino muito mais funesto do que imaginara ao deixar Montreal. É nessa mesma cidade que Stockman desaparecerá, curiosamente, mais tarde, segundo nos conta o seu melhor amigo – o narrador deste romance – a quem cabe agora desmontar os acontecimentos, destrinçar fantasia e realidade e enfrentar as assustadoras e macabras coincidências que unem, como num espelho, a vida dos dois músicos.

Fonte