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quinta-feira, 16 de maio de 2013

Citações #24

«Na claridade do primeiro alvorecer, levantou-se. O céu estava muito limpo, transparente até às últimas e pálidas estrelas. Era um bonito dia para entrar em Lisboa, com bom tempo para lá ficar ou continuar viagem, logo veria. Meteu a mão ao alforge, tirou as botas arruinadas que em todo o caminho do Alentejo nunca calçara, e calçasse-as ele nesse mesmo caminho teriam ficado, e pedindo à mão direita habilidades novas, com o frouxo amparo que o coto, ainda em primeira aprendizagem, podia oferecer, conseguiu acomodar os pés, se pelo contrário não ia sacrificá-los em bolhas e roeduras, tão antigo era o hábito de andarem descalços, em sua vida de paisano, ou, no tempo militar, quando a impedimenta nem para jantar tinha sola, quanto mais para as botas. Não há pior vida que a do soldado.»

Memorial do Convento, José Saramago

quarta-feira, 27 de abril de 2011

Romance Inédito de Saramago


Aproveitando a deixa do Dia Mundial do Livro, a Fundação José Saramago deu a conhecer, através do seu site, as linhas iniciais de "A Clarabóia", romance de juventude do Nobel da literatura português, nunca antes publicado. De resto, diz-se que será publicado no final do presente ano.
O aperitivo divulgado pela Fundação pode ser lido aqui.

sábado, 30 de outubro de 2010

As Intermitências da Morte - José Saramago

Título: As Intermitências da Morte
Autor: José Saramago
Nº de Páginas: 231
Editora: Leya - Colecção Bis
Preço: 5,95 €

Sinopse: « «No dia seguinte ninguém morreu. Assim começa este romance de José Saramago. Colocada a hipótese, o autor desenvolve-a em todas as suas consequências, e o leitor é conduzido com mão de mestre numa ampla divagação sobre a vida, a morte, o amor, e o sentido, ou a falta dele, da nossa existência.»

Depois de ler Ensaio sobre a Cegueira e O Homem Duplicado, as expectativas estavam altas em relação ao que podia ler no futuro de José Saramago. Depois de ler este terceiro livro do autor, posso dizer que muito provavelmente encontrei o meu escritor preferido. E engane-se quem pensa que o digo englobando apenas escritores de língua portuguesa, pois digo-o a nível mundial.
Saramago tornou-se aos poucos num daqueles autores  de quem pretendo ler a obra completa, ou pelo menos grande parte dela - assim como Eça de Queirós ou Tolstói, por exemplo- o que revela todo o meu fascínio pela sua escrita.

Nesta obra em concreto, Saramago escreve na sua maneira típica, uma narrativa inverosímil com uma mensagem muito terrena, repleta de críticas às mais diversas identidades e grupos sociais (como é o caso da igreja).

Num país onde a morte deixa de operar desde o primeiro dia do ano, os seus cidadãos tornam-se num povo feliz e até invejado pelos habitantes dos restantes países. Algo que não dura muito, pois passado pouco tempo começam a surgir as verdadeiras consequências de tal acontecimento; amontoam-se os doentes terminais, a quem a morte não vem buscar como fazia antigamente, algumas industrias sofrem um abalo descomunal - como por exemplo a indústria funerária, que já não tendo ninguém para enterrar teve de se contentar com o enterro de animais domésticos. Acontecimento que por conseguinte leva a que algumas famílias opte por passar a fronteira limítrofe com os seus entes queridos, matando-os de imediato, acto que depois viria a ser desempenhado pela máphia local a troco de dinheiro.
Ironicamente, a morte regressa ao activo levando o país bastardo de volta à normalidade.
O livro tem um desfecho incrivelmente surpreendente, digo-o desta maneira para não estragar a leitura de uma obra que tanto prezo, embora as minhas reviews/opiniões/críticas contenham sempre spoilers (pois também acho que faz parte de uma boa crítica adoçar a boca aos leitores da mesma com um pouco do que de positivo ou negativo tem o livro em questão).

Da minha humilde percepção e ponto de vista, Saramago quis com esta obra mostrar que até a morte é parte importante e até mesmo essencial para o desenrolar da vida "normal" de uma sociedade, sendo que consegue também mostrar o valor da vida, tantas vezes menosprezado e esquecido.

Este autor fascina-me a cada palavra lida, a cada frase, a cada página, com uma escrita inconfundível onde se reflecte um espírito superior ao dos demais autores. José Saramago para mim não é apenas um escritor, mas sim o escritor. Sinto um misto de vários sentimentos ao pensar nas tantas obras que tenho ainda para ler deste autor; sinto pressa e uma vontade enorme de explorar a sua obra até à ultima gota, sinto uma alegria enorme por saber que tenho ainda mais de uma dezena de obras suas para ler mas ao mesmo tempo sinto alguma tristeza por saber que essa mesma lista de obras nunca mais será aumentada

Sinceramente, quando penso em José Saramago sinto orgulho por se tratar de um autor português e sinto uma espécie de pena misturada com vergonha pelo modo como foi tratado por vezes no nosso país, que o levou a isolar-se em Espanha, pois embora tenha sido claramente uma opção pessoal, penso que deve ter sido com grande mágoa que abandonou a sua pátria.

Memorial do Convento, Objecto Quase e Todos os Nomes, são agora as obras do autor que almejo ler num futuro que espero ser o mais próximo possível. O que é algo contraditório, pois neste momento encontro-me em fase de Stop no que toca a comprar livros, pois tenho nas minhas estantes dezenas de livros por ler que decidi não atrasar mais, o que faz com que só volte a ler autores pelos quais me tenho apaixonado daqui a algum tempo.

Aconselho vivamente quem nunca leu José Saramago a experimentar e penetrar nos confins da sua obra, pois têm muito por onde escolher, sendo que daquilo que conheço aconselharia O Homem Duplicado como o livro ideal para se começar a ler este autor. Valorizem aquilo que de melhor temos no nosso país.

Boas leituras,

Fernando

quarta-feira, 8 de setembro de 2010

O Homem Duplicado - José Saramago



Título: O Homem Duplicado
Autor: José Saramago
Nº de Páginas: 318
Editora: Caminho
Preço: 14,85 €


Sinopse: «Tertuliano Máximo Afonso, professor de História, vive só, num bairro da cidade sem nome, só com a sua solidão. Um dia aluga um velho filme para ver em casa como repouso do cansaço que lhe deu a correcção dos trabalhos dos alunos. E acontece algo que lhe modificará a vida de solitário e pacato cidadão - um dos actores secundários do filme é exactamente igual a si próprio, é o seu duplo. Inquieto com a possibilidade de existir, eventualmente perto de si, na sua cidade, um outro que é ele próprio, lança-se numa investigação para encontrar esse outro, provocar um encontro, medir-se com ele. Com base neste ponto de partida, com uma intriga complexa conduzida com mão de mestre, José Saramago oferece-nos, com O Homem Duplicado, um dos seus mais belos romances.»


Opinião: Em O Homem Duplicado, Saramago presenteia os leitores com uma estória surreal que tem como protagonista um normalíssimo professor de História de seu nome Tertuliano Máximo Afonso que vê a sua vida dar uma volta de 180 graus ao descobrir que existe neste mundo um homem completamente igual a si, um duplo seu. Isto sucede quando o professor decide alugar um filme aconselhado por um colega seu de profissão, e qual não é o seu espanto quando, imagine-se, a meio do filme aparece um sujeito exactamente igual a si! Tertuliano Máximo Afonso faz tudo para descobrir a verdadeira identidade do actor e quando finalmente o consegue encontra-se com ele para finalmente ter à sua frente o homem que entrou na sua vida através de um filme e veio transformá-la em algo parecido com um.
Mais uma vez Saramago encantou-me com uma estória muito bem contada, tenho só a dizer que me pareceu que ao longo do enredo algumas das suas observações foram um pouco despropositadas e fora de contexto.

Um enredo, citando a sinope do livro, escrito com mão de mestre, que apesar de ficar aquém de outras obras de maior prestigio do autor não deixa de ser um livro muito bom que aconcelho qualquer pessoa a ler, simplificando, não é o melhor livro de Saramago mas a genialidade do autor está presente o que significa que vale a pena ler!

Fico um pouco triste quando visito alguns blogs do género e não encontro qualquer opinião ou crítica a livros de Saramago, pois eu senti quase uma obrigação de ler o único escritor de lingua portuguesa que alguma vez recebeu o prémio nobel, isto acompanhado dos concelhos de um professor que dizia que quanto mais conhecia o homem, menos vontade tinha de ler os seus livros. Enfim, conheci a obra de Saramago através do "Ensaio sobre a Cegueira", que por coincidência ou não, é o meu livro favorito de sempre. O que quero dizer com este "sermão" é que me parece que os portugueses transportam também para a literatura um pouco da famosa teoria "o de fora é que é bom", deixando de parte autores simplesmente extraordinários!
O que tenho a dizer a essas pessoas é o seguinte: Dêm o braço a torcer e vão ver que não se arrependem!

Cumprimentos, Fernando