sexta-feira, 8 de outubro de 2010

Capitães da Areia - Jorge Amado


Título: Capitães da Areia
Autor: Jorge Amado
Nº de Páginas: 280
Editora: Leya - Colecção Bis
Preço: 5,95 €

Sinopse: «Capitães da Areia é o livro de Jorge Amado mais vendido no mundo inteiro. Publicado em 1937, teve a sua primeira edição apreendida e queimada em praça pública pelas autoridades do Estado Novo.
Em 1944 conheceu nova edição e, desde então, sucederam-se as edições nacionais e estrangeiras, e as adaptações para a rádio, televisão e cinema.
Jorge Amado descreve, em páginas carregadas de grande beleza e dramatismo, a vida dos meninos abandonados nas ruas de São Salvador da Bahia, conhecidos por Capitães da Areia.»

A narrativa começa com a transcrição de várias notícias de jornal nas quais se falam de grupos de crianças abandonadas que andam a apavorar as ruas da Bahia numa onda de assaltos, e é sobre essas mesmas crianças e adolescentes que esta obra nos fala, nomeadamente de um grupo organizado de crianças, os Capitães da Areia, como se auto intitulam. Os Capitães da Areia são um grupo constituído por dezenas de crianças e adolescentes, liderados por Pedro Bala, de quem as autoridades só sabem que tem uma cicatriz no rosto e que é o mais perigoso de todos eles. O pai de Pedro era um grevista que morreu durante uma greve, era um líder e Pedro herdou isso do pai, o seu pai - o Loiro, era o líder dos grevistas, Pedro é o líder dos Capitães da Areia. Durante o livro vamos descobrindo pormenores das vidas de vários membros dos Capitães da Areia. Descobrimos que o Sem-Pernas foi surrado por policias enquanto o seu superior observava, descobrimos que Volta-Seca admira Lampião e que quer ser como ele um dia, descobrimos que Pirulito quer ser padre, para felicidade do padre José Pedro. A obra divide-se por capítulos devidamente dedicados a cada um dos personagens, de modo a que o leitor conheça melhor cada um deles, sendo que também existem capítulos onde surgem vários dos Capitães da Areia a actuarem em conjunto, demonstrando o seu companheirismo, as regras pelas quais se regem e a sua arte - a arte do roubo.


Quem conhece a situação que se vive actualmente no Brasil sabe que existem muitos meninos abandonados por toda a parte, já oiço falar disso desde o tempo dos arrastões - assaltos praticados por bandos de crianças e jovens nas praias brasileiras. Para além da problemática criminal proveniente das favelas, existe também uma onda de crimes praticados por crianças das cidades, crianças que habitam em lugares desumanos como barcos virados do avesso nos areais ou armazéns abandonados perto dos portos marítimos. Jorge Amado aborda um assunto que na minha opinião nunca foi tão actual, pois cada vez à mais crianças abandonadas por todo o Brasil. Apesar do livro ter sido publicado pela primeira vez em 1937, tendo sido essa edição apreendida e queimada em praça pública, Capitães da Areia é de uma actualidade arrepiante, algo que na minha humilde opinião diz muito de Jorge Amado.


Trata-se de uma obra constituída por uma escrita simples, com uma mensagem de companheirismo e absolvição da culpa dos meninos abandonados. Penso que a mensagem principal de Jorge Amado nesta obra era mostrar que os "meninos ladrões" não têm culpa da vida que levam, elas simplesmente não tiveram outra escolha.
 
Sem ter uma razão em especial, posso dizer-vos que Jorge Amado é um daqueles escritores que ainda mesmo sem ter lido qualquer obra sua já em mim morava um enorme fascínio por ele (assim como García Marquez, Pepetela ou Eça de Queirós). Esse fascínio precoce geralmente tem sido bem correspondido, pois devo dizer que normalmente quando pego num livro de um desses escritores o devoro em pouquíssimo tempo...só posso desejar ler Jorge Amado em breve.

Não posso deixar de recomendar esta obra a todos os visitantes do blog, pois creio que vos fará pensar duas vezes acerca de certas situações com que nos deparamos no dia-a-dia. Eu pelo menos senti isso, de cada vez que saí à rua depois de ler esta obra, em relação à pobreza que me é esfregada na cara por todo o lado.
Leiam que não se vão arrepender.

Cumprimentos,

Fernando

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